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Artigos Segunda-feira, 07 de Abril de 2025, 09:19 - A | A

Segunda-feira, 07 de Abril de 2025, 09h:19 - A | A

Ubiratã Nascentes Alves

Cuiabá e sua história

Por Ubiratã Nascentes Alves

As bandeiras voltadas para a caça – prear, índios vinham para o oeste vasculhar as terras deste sertão. Pascoal Moreira Cabral um dos pioneiros, sabendo da existência de índios rumou para região do rio Coxipó. Recuperando-se da ferrenha oposição encontrada, acampou nas margens do rio Coxipó-Mirim. Conforme os registros, ao lavarem os pratos na beira desse rio, encontraram casualmente ouro e assim, abandonaram o aprisionamento pelo garimpo.

Neste local se fixaram, construíram casas, erigindo até uma capelinha, o povoado inicial veio a ser chamado São Gonçalo Velho. O marco de criação da cidade, sua Ata de Fundação, registra a data, 8 de Abril 1719. Neste dia fundou-se o arraial embrionário, sendo escolhido através do voto direto, para seu chefe o Guarda-Mor, Pascoal Moreira Cabral.

Esgotando-se rapidamente a fácil extração do ouro, mudaram-se para outro local também no rio Coxipó-Mirim, que chamou-se Forquilha, onde nova capela foi soerguida sob invocação de N. Sra. da Penha de França – um dos nomes de Maria, mãe de Jesus.

Seguiu auspiciosa, até que maior descoberta, pudesse causar mudanças. Correndo mundo as notícias do ouro, inicia intenso fluxo migratório, e aumentam as imposições de subsistência para atender este novo contingente. Visando mais o plantio que minerar, alcança a estes rincões em 1722 o bandeirante sorocabano Miguel Sutil. Este envia dois índios, à cata de mel, todavia, tardaram em regressar ao rancho, onde o patrão os aguardava um tanto impaciente. Indagando-lhes a razão da prolongada demora recebeu a seguinte resposta: “Vós viestes a buscar ouro, ou mel?”

Entregaram-lhe o que traziam, embrulhados em folhas. Eram grânulos de ouro, que pesavam 120 oitavas – oitava parte da onça aproximadamente 3,6 g = 432 gramas. Não haveria argumento mais convincente para desarmar a zanga de Sutil, que se apressou em confirmar o fato. Mesmo na madrugada seguiram a trilha apontada pelos dois guias, atingindo em breve o sítio por ele procurado. Maravilhou-se com a fartura aurífera e só depois à tarde, voltando ao seu abrigo, pode avaliar a colheita alucinante. Sutil apanhara meia arroba de ouro – equivalente a 7,5 quilos e o camarada João Francisco; por não ter quem ajudasse, só 200 oitavas – 720g!

Para legalizar a posse, regressaram no dia seguinte ao Arraial de Forquilha, onde suas notícias incentivaram os parceiros a seguirem o exemplo. Incrementou- se assim o povoamento, em pouco tempo, apenas raros moradores permaneceram no Arraial do Coxipó-Mirim, enquanto avultava progressivamente o número dos que se mudavam para as “Lavras do Sutil”, considerada a maior mancha de ouro que jamais achou-se em todo o Brasil.

O cronista José Barbosa de Sá na obra “Relação das Povoações de Cuyabá e Mato Grosso de seus primeiros até os presentes tempos”, que é o patrono da cadeira nº 1 da Academia Mato-Grossense de Letras, por nós ocupada, assim qualificou a descoberta: “pela quadra abaixo até o córrego, e coisa de vinte braças para cada lado, avaliou-se tirar deste lugar o melhor de quatrocentas arrobas de ouro”. braça = 2,2 m.20 = 44 m.2 = 88 m => 1 arroba 14,688.400 = 5.875,2 kg

Cuiabá história

 

Principiou o povoamento nos arredores onde hoje se acha, a igreja Nossa Sra. do Rosário, São Benedito. Margeava o córrego que tomaria o nome de Prainha, no seu cascalho repleto de ouro, encontravam-se em pepitas e granitos de vários tamanhos. Neste sentido, a povoação cresceu livre sem obedecer rígidos projetos de arruamentos, seguia o contorno do rio onde a sorte bafejasse.

Amiudaram-se as monções que transportavam negociantes, mineradores e todos que se deixavam seduzir pelo enriquecimento fácil das minas. A viagem constituía prova de resistência a que só os fortes suportavam. Saiam de Porto Feliz no rio Tietê, seriam 55 cachoeiras e varadouros. Nem atingindo o Paraguai poderiam considerar vitoriosa a longa jornada. Um perigo maior se avultava, vez que a monção de Diogo de Souza foi destroçada em 1725 pelos índios Paiaguás, hábeis canoeiros, quando pereceram mais de 600 pessoas nos ataques. Chegando D. Rodrigo César de Menezes, truculento capitão-general de São Paulo, fez inaugurar em 1º de Janeiro de 1727 a “Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá”. Esta monção contribuiu com cerca de 3.000 homens pretendentes a garimpar o solo aluvionar. Nesta época teríamos sido a 3ª ou 4ª urbe em população do país. Ao fim de sua permanência na vila em 1728, ordenou ao “Provedor dos Quintos Reais” – Imposto Real, igual a quinta parte; que lhe restituíssem 4.990 oitavas de ouro, para saldar os gastos de sua viagem.

Foi brilhante e destacou o primeiro governador da Capitania Independente de Mato Grosso, criada por ordem D. João V, Rei de Portugal em 9 de maio 1748. Um grande fidalgo, D. Antônio Rolim de Moura Tavares, veio a tomar posse no dia 14 de janeiro 1751. Cuidou seriamente de preservar a fronteira, iniciando-se a era dos engenhos de açúcar, a lavoura ficava limitada pela barreira dos transportes, enquanto o gado sobejava.  

Cuiabá história 2

 

Após a Independência, Cuiabá se torna “de fato” a Capital da agora Província de Mato Grosso, logo em 10 de setembro 1825, tomando posse do Dr. José Saturnino da Costa Pereira. A pobreza espalhava-se no imposto de 40% e taxas da Junta da Fazendária. Inicia-se realmente a mudança definitiva para Cuiabá em 1834 com a instalação na urbe da Assembleia Legislativa Provincial e por força da Lei Imperial nº 16 emanada ainda em 12 de agosto desse ano. Esta conhecida por “Ato Adicional”, concedendo às Assembleias Legislativas Provinciais a competência e poderes para deliberar sobre alteração das capitais provinciais consoante suas realidades. A mudança legal, portanto, definitiva foi em 28 de agosto de 1835, conforme estabelecido pelo texto da Lei nº 19, esta sancionada pelo então presidente da província, Antônio Pedro de Alencastro.

Avançando mais no tempo, chegando em Cuiabá a notícia da Proclamação da República, mais tarde no dia 09 de dezembro 1889, o povo aclama como governador o Gal. Antônio Maria Coelho. Deste período em frente, história contemporânea, viveram nossos avós, o futuro um encargo para atual geração e sua descendência. Assim, vindo a confirmar a capital o prognóstico do Estado solução representando a liderança nacional do Agro, consolidando-se na produção nacional de alimentos. Estando na liderança com o Valor Bruto de Produção – VMB, isolado no patamar de R$ 185,2 bilhões, enquanto o segundo reside já no limite, na casa de R$ 159,8 bilhões. E vai deslanchar no cenário ao deslocar o eixo para o Oeste com a ligação ao Pacífico e a cidade aurífera, do místico centro geodésico, vai capitanear o fornecimento ao Oriente, sequioso de comodities.

Estão todos de Parabéns desde Sutil, Rolin, Albuquerque, Leverger, Totó, Murtinho, Rondon, Aquino, Dutra e você augusto incógnito que veio para somar e com o suor honesto cresce junto. Salve o clero que nos encaminha Padres Firmo, Edevando, Fante, Bispo Máximo Biennès, os Arce’s Bonifácio, Dom Mário, a nos guiar.

Salve Cuiabá em seus 306 anos, salve-se quem puder !!!

Ubiratã Nascentes Alves é Procurador do Estado de Mato Grosso, Administrador, Advogado e autor de vários livros publicados. Ocupa a cadeira 01 da Academia Mato-grossense de Letras - AML e, a presidiu AML. Estudou no Colégio Militar de Recife, Colégio Pedro II (RJ), Escola Nacional de Ciências Estatísticas (RJ), Escola Brasileira de Administração Pública – FGV (RJ), Lamar School (TEXAS / USA), dentre outras instituições no Brasil e na Europa.  [email protected]