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Artigos Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 17:25 - A | A

Sexta-feira, 09 de Maio de 2025, 17h:25 - A | A

Ubiratã Nascentes Alves

A Capitania de Mato Grosso

Por Ubiratã Nascentes Alves

A proximidade torna bem propício escolher este capítulo de nossa história para relembrar os feitos destes bravos, determinados homens que através do suor e sangue não mediram esforços e no limite da própria vida nos legaram este maravilhoso torrão. Deseja-se render justa homenagem e imortalizá-los, pois o conhecimento molda nossa identidade cultural, social e política, sair de meros pacíficos expectadores a partícipes...

D. João V, rei de Portugal, criou a Capitania Independente de Mato Grosso, por Ato de 09 de maio 1.748, sendo ela desmembrada de São Paulo. Vale salientar que menos de 3 décadas após a fundação de Cuiabá, nomeando seu governador, um primo, D. Antônio  Rolim de Moura Tavares, que tomou posse a 17 de janeiro 1.751.

Não completara ainda 40 anos, quando aceita administrar a Capitania nascente. Era capitão do 2º Batalhão de Infantaria e Guarnição de Lisboa, que iria deixar, para assumir o mais alto posto no Continente Americano.

Tomou posse em Cuiabá onde revelou as “Instruções” que lhe deveriam definir as diretrizes do Governo. Recomendava-lhe o § 1º : 

- “Suposto entre os distritos de que se compõe aquela Capitania Geral, seja o de Cuiabá o que se ache mais povoado, contudo, atendendo a que Mato Grosso se requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem determinar que a cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito de Mato Grosso, no qual fareis a vossa mais costumeira residência.”

Omitiu a Vila de Cuiabá como sede do governo, por outra que deveria fundar, atento ao interesse de ampliar o domínio da coroa e vigilância do território. Ficou o necessário às providências administrativas e seguiu para o Oeste, conforme o desejo do Rei. Dom Rolim de Moura ocupou-se na defesa ocidental da capitania, por sua luta não perdemos as terras do lado direito do rio Guaporé.

MT 1

 

A escolha do lugar adequado o fez visitar diversos povoados, como São Rafael dos Chiquitos, Pouso Alegre, São Francisco Xavier e Sant’Ana de Chapada; infelizmente estes arraiais não completavam as necessidades para acolher a essa nova capital. Na busca impelido pelas fortes chuvas, atingiu a beira de um rio, ele encontrava-se no vale do Guaporé, decide ali implantar a Vila.

Fundou-a em 19 de março 1752, levantou um Pelourinho, marco do status e chamou de “Vila Bela da Santíssima Trindade”. Visando assinalar a existência do novo lugar, montou praças, armou uma incipiente casa de toldos e realizou o ato de criação, quando então tomam posse os respectivos dirigentes municipais.

Houve o plano da malha, com preocupações de urbanismo, nesta que foi a primeira vila mato-grossense, antes projetada. Desenvolveram-se as duas urbes, uma de objetivos políticos ao calor da presença dos capitães-generais, atacada por doenças; outra, ao sabor da lavoura e pecuária que já na época sobejava. A Capitania prosperava, a extrativa, agricultura, mais engenhos de açúcar e a noviça mineração de diamante em Alto Paraguai. 

Vila Bela

 

Dom Rolim de Moura ainda rechaçou em 1763 a investida castelhana comandada por Itomanas, afastada relativamente das pressões fronteiriças, não deixou Cuiabá de participar das lutas, enviou víveres e homens armados para ajudar o capitão-general.

O segundo capitão-general, João Pedro Câmara - 1769 a 1773, no poder quatro anos, as ações cingiram-se na defesa fronteiriça. Rechaçou os espanhóis na tentativa em 10 de outubro 1976, chefiou em pessoa a resistência do Forte da Conceição – Vila Bela.

O terceiro capitão-general Luiz Pinto de Souza Coutinho - 1780 a 1786, sua gestão foi marcada por diversas ações administrativas, militares, econômicas que tiveram um grande impacto na região. Passando por Cuiabá, lhe foram dedicadas três dias de cavalhadas, cinco comédias, duas óperas e danças para ele fixar-se na cidade.

Merece singular menção a pessoa do quarto capitão-general Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, que tomou posse em 13 dezembro 1772, além de outros serviços de notável valor, tratou com esmero o povoamento da fronteira, estendendo arraiais de Oeste para Sul, para evitar as invasões. Fundou Vila Maria – depois Cáceres, construiu o Presídio Nova Coimbra – Forte de Coimbra, edificou o presídio de Albuquerque – hoje Corumbá, fundou São Pedro de El Rei – veio a ser Poconé, a povoação de Casalvasco e ainda erigiu o Forte Príncipe da Beira.

MT 3

 

Indicou para substituí-lo o seu irmão João de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, tornando-se o quinto capitão-general.  Não tinha as qualidades do irmão, assume em 20 de novembro 1790, morre de malária na capital política em 29 fevereiro 1796.

Assume uma junta governativa, transmitindo o poder para Caetano Pinto de Miranda Montenegro – 1796 a 1802, um doutor em direito, o sexto capitão. O episódio marcante, foi a investida hispânica sobre o Forte de Coimbra – 17 de setembro de 1801. Espanha e o aliado Napoleão I, estavam em luta contra Portugal, este fato repercutiu em suas colônias; chefiava a praça de guerra o Capitão Ricardo Franco de Almeida Serra, que não fraquejava. Dom Lázaro de Rivera, o próprio governador de Assunção, chefiava a tropa. Essa preparada força fluvial tinha a bordo cerca de 800 homens, após efetuar disparos das canhoneiras, receber de volta outros, o arrogante paraguaio envia um ultimatum para os brasileiros. Havia grande discrepância de forças, somavam na defesa apenas 110 bravos praças e valoroso comando, todos dispostos a lutar. Após realizarem nove vãs tentativas, amargando consideráveis perdas, o abatido governante guarani satisfeito, volta para casa. Ricardo Franco por bravura foi promovido ao posto de Coronel, agraciado com hábito de São Bento de Aviz e recebe uma tença; foi ainda responsável pela construção do Forte Principe da Beira, finalmente torna-se Patrono da Arma de Engenharia do Exército.  

Manoel Carlos de Abreu Menezes, o sétimo capitão-general, 1802 a 18055 recebe o governo de uma junta, falece de malária em 08 de fevereiro 1805, teve desafios para manter e reforçar a presença lusitana para guarnecer os fortes de nossa fronteira, estimulou a pecuária, agricultura visando suprir as necessidades.

Destaque a João Carlos Augusto D’Oeynhausen Gravemberg, oitavo e penúltimo capitão-general – cargo transmitido por uma junta a 18 de novembro 1807 em Vila Bela permaneceu até 1819. Entretanto, as doenças locais haviam feito sucumbir a dois capitães-generais, além de outras perdas de nobres funcionários, resultou no paulatino escoamento da eficaz gestão para Cuiabá. Fundou a Santa Casa da Misericórdia operante até os dias atuais, Hospital de São José dos Lázaros e ainda o Real Hospital Militar. Realizou a fundação de uma Companhia de Mineração de Cuiabá, para proteção uma Escola de Marinheiros e Construções Navais. Durante este profícuo governo, Cuiabá foi elevada à categoria de cidade através de uma Carta de Lei em 17 de setembro 1818.  Assim, contribuiu muito para o progresso e da instrução popular, até o embrião de um pioneiro curso de medicina para Vila Bela. Finalizou a missão em 06 de janeiro 1819, indo depois governar a Capitania de São Paulo e recebeu a honraria, Marquês de Aracati.

MT 2

 

Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho, o nono dos capitães-generais, assumiu o governo em 06 de janeiro 1819. Tanto lhe agradou o convívio que preferiu residir em Cuiabá, motivado pelas notícias dos muitos falecimentos em Vila Bela. Apenas visitando Vila Bela uma única vez, em agosto de 1820. Postulou ao rei D. João VI, mudança por razões de insalubridade e razões de logística da capital para Cuiabá, ocorrido só em 1835. Realizou governo austero, desperdícios, acusado de corrupção, granjeou muita antipatia, sendo deposto em 20 de agosto 1821. Assume uma junta, com a independência em 7 de setembro 1822 Mato Grosso vem tornar-se uma das Províncias do Brasil Império.

Ubiratã Nascentes Alves é Procurador do Estado de Mato Grosso, Administrador, Advogado e autor de vários livros publicados. Ocupa a cadeira 01 da Academia Mato-grossense de Letras - AML e, a presidiu AML. Estudou no Colégio Militar de Recife, Colégio Pedro II (RJ), Escola Nacional de Ciências Estatísticas (RJ), Escola Brasileira de Administração Pública – FGV (RJ), Lamar School (TEXAS / USA), dentre outras instituições no Brasil e na Europa.  [email protected]